Secretaria de Missões
A igreja descrita em Atos dos apóstolos não é perfeita! Há entre muitos o mito da igreja perfeita e freqüentemente atribui-se às igrejas citadas nos escritos de Lucas status da perfeição.
Atos é um livro "aberto", não tem benção apostólica, conclusão, está "aberto" porque trata da história da igreja de Cristo que perdura e se desenvolve até hoje. É perfeita na revelação, na teologia, na eclesiologia, mas não na história.
No entanto há muito que aprender com essas primeiras comunidades cristãs, pois, sobretudo, nos mostra a igreja de Cristo em sua essência mais pura: Missões!
Uma igreja cada vez mais envolvida com missões é o que todo líder de visão deseja ter a despeito do bombardeio de prioridades outras que acometem a igreja, estou convencido de que não poderemos agradar a Deus se não formos uma igreja missionária de fato, e eis a razão desta mensagem sobre missões.
Uma igreja envolvida com missões verá os recursos necessários para o cumprimento dessa tarefa surgirem, tanto recursos financeiros quanto recursos humanos e espirituais.
Sobre estes aspectos do envolvimento da igreja com missões outros colegas nas outras palestras abordarão com detalhes. Por isso, não irei além.
O pós modernismo conspira contra a obra missionária, a eclesiologia moderna conspira contra a obra missionária mas "... nós não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido", por certo essa obra é inacabada, e se nossa geração vai concluí-la Deus o sabe, mas o essencial é que, no que está em nossas mãos, façamos da melhor maneira possível para a glória e honra de Deus!!!
Não é possível fazer missão sem se envolver plenamente na missão. Moisés teve de voltar para o Egito. Ele não podia fazer missão em Midiã. Nós nos enganamos quando pensamos que é possível fazer missão sem sair da Igreja. A missão, e associada a ela, a evangelização deve acontecer onde o povo oprimido está. A missão não acontece dentro da Igreja, mas no mundo. No lugar onde o povo oprimido levanta o seu clamor.
Este tipo de envolvimento pleno é-nos demonstrado pelo próprio Deus:
- No ato da criação: ao moldar o ser humano no barro: Deus se mistura à nossa humanidade e a nossa humanidade se mistura com Deus; Esta mistura ganha seu ápice na Encarnação do Verbo ( Jesus);
- Nos verbos apresentados a Moisés: Eu vi a aflição do meu povo; Eu ouvi o seu clamor; Eu desci pra livrá-lo da mão dos seus exatores.
Sem um envolvimento pleno não há possibilidade da realização da missão. E nós devemos ter em mente que, em primeiro lugar, este envolvimento pleno parte do próprio Deus. E o nosso envolvimento é motivado pela certeza que Deus já está envolvido no projeto de libertação do ser humano; Ele desceu para promover o livramento, ou à luz do Evangelho de João: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós...” (Jo 1. 14). O Deus da Bíblia vai ser sempre conhecido como uma presença viva “Eu estou porque Estou” (Ex 3. 14).
A Igreja precisa redescobrir o Deus do Êxodo (Javé) e o Deus Encarnado (Jesus). Algo que tem me preocupado muito nos últimos dias, especialmente refletindo mais sobre a missão e a evangelização, é o fato de que uma boa parte da teologia que é pregada, ensinada e cantada em nossas comunidades de fé fala ou transmite a idéia de um Deus puramente transcendente.
Embora a transcendência seja sempre um elemento característico de Deus. O apóstolo Paulo canta esta inacessibilidade profunda em sua carta aos Romanos: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos”(Rm 11. 33). É preciso termos em mente que este Deus inacessível em sua transcendência se fez carne e habitou entre nós. Ele assumiu nossa humanidade para nos revestir de sua divindade.
Ficar preso ou enfatizar apenas a transcendência de Deus em muitos casos significa tirar Deus do nosso meio e aprisioná-lo no céu. É muito bom cantarmos com a Ana Paula Valadão: “Quero subir, ao monte santo de Sião e entoar um novo cântico ao meu Deus”. Mas também é preciso cantar: Quero descer do monte santo de Sião e encontrar o povo do Senhor... No Egito. Porque Javé ouviu o seu clamor e desceu do monte de Sião para livrá-lo da mão dos seus exatores.
Este tipo de teologia que nos tem sido ensinada é comodista e não reflete a vontade e o desejo de Deus. O encontro com o Senhor no monte é necessário, mas para nos revelar que Javé é aquele que desce, e nos chama para descermos com ele: “Vem, agora, e eu te enviarei a faraó... Eu serei contigo...” (Ex 3. 10a e 12b). O Deus da Bíblia vai ser sempre uma presença viva. E esta presença vai sempre motivar o ser humano à missão.
A verdadeira missão/evangelização deve obedecer à dinâmica da ação instituída por Deus:
- Eu vi a aflição do meu povo: na experiência do Êxodo, Deus nos mostra como deve acontecer a missão. Ela nasce em primeiro lugar da percepção. “Eu vi a aflição...” Sem percepção não há missão. Se a igreja não ver as situações de sofrimento e se estas situações não incomodar seu coração, ela nunca irá fazer missão.